
O curso de Serviço Social foi construído ao longo do século XX. Suas bandeiras de lutas também. Combater as desigualdades socais, defender a igualdade de gênero, atacar o preconceito, a discriminação... Suas bandeiras de luta são várias, e se tornaram mais complexas. Como a sociedade é dinâmica, as bandeiras de luta e as formas de enfrentamento também devem ser dinâmicos.
A existência da disciplina de Responsabilidade Socioambiental na grade do curso de Serviço Social é uma prova desse dinamismo e da contemporaneidade das bandeiras de luta defendidas pelo curso. Proteger o Meio Ambiente é uma necessidade.
Preservar o meio ambiente é garantir, no longo prazo, a sobrevivência da vida humana na terra, mas, para preservar o meio ambiente, é necessário criar condições sociais para que haja uma sociedade sustentável, capaz de explorar a natureza sem destruí-la. Atualmente isso não acontece, e um dos motivos é a exploração capitalista. Essa verdade é um dos motivos que levou o curso de Serviço Social a encampar essa nova bandeira de luta.
Por muito tempo, demonstrar que o meio ambiente está ameaçado foi um papel desempenhado pelas ciências biológicas, e ´por muito tempo essa discussão ficou “represada” nesse meio acadêmico, todavia, desde o início da década de 1960 a luta pela preservação e manutenção de um meio ambiental saudável passou a ser também uma luta por inclusão social.
O ano de 1962 é um marco histórico quando se fala em meio ambiente e inclusão social. Naquele ano a americana Rachel Carson publicou um livro chamado a “Primavera Silenciosa”. Nele são apontados os danos ao meio ambiente causados pelo uso descontrolado de pesticidas. Eles matavam os pássaros, seus alimentos e tornavam seus ovos estéreis...
Sem pássaros não há canto... Sem canto, a primavera chega silenciosa.
Muita coisa aconteceu depois daquela primeira denúncia.
Na década de 1970 a ONU afirmou pela primeira vez, na Conferência de Estocolmo, na Suécia, que a humanidade deveria alinhar desenvolvimento com preservação do meio ambiente.
Na década de 1980 ela criou a Comissão Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento cujo relatório final, chamado de “Nosso Futuro Comum”, afirmava que a humanidade deveria buscar o Desenvolvimento Sustentável, a soma da proteção ambiental com o crescimento econômico e a equidade social.
Na década de 1990 a ONU realizou no Brasil a “Cúpula da Terra” (Rio-92), Conferência criada para discutir o Meio Ambiente e o Desenvolvimento. Lá foi lançada a “Agenda 21”, e a inclusão das 3 dimensões norteadoras do Desenvolvimento Sustentável (econômica, social e ambiental) na “Agenda” criou as raízes que sustentaram os “8 Objetivos do Milênio”, que sustentam a “Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável” e seus 17 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável:
1. Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares;
2. Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável;
3. Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos e todas, em todas as idades;
4. Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos e todas;
5. Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas;
6. Assegurar a disponibilidade e a gestão sustentável da água e saneamento para todos;
7. Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos;
8. Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos e todas;
9. Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação;
10. Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles;
11. Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis;
12. Assegurar padrões de produção e consumo sustentáveis;
13. Tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima e seus impactos;
14. Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável;
15. Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade;
16. Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis;
17. Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável.
Como é possível perceber, não é possível separar o curso de Serviço Social da luta pela preservação do Meio Ambiente. Várias bandeiras de lutas do curso nasceram ou foram incorporadas na luta pela preservação ambiental.
A disciplina de Responsabilidade Socioambiental tem um lugar privilegiado nessa discussão porque, além de discutir o Desenvolvimento Sustentável, também analisa como a sociedade passou a cobrar das organizações, via meios legais e/ou boicote de marcas e mercadorias produzidas por elas, a aplicação dos princípios que regem e norteiam o desenvolvimento sustentável.
A disciplina demonstra que são as estruturas capitalistas que mais se beneficiam com a exploração do meio ambiente e por isso, é necessário lutar para que as mesmas implantem projetos socioambientais capazes de garantir o Desenvolvimento Sustentável ou reparar de forma concreta os danos ambientais, sociais e econômicos surgidos depois que passaram a explorar o meio ambiente e a sociedade onde se instalaram.
Prof. Gabriel Nava Lima
Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional
Mestre em Ciências Sociais
Graduado em História e Administração
Professor do curso de Serviço Social da Faculdade Edufor
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